quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A "apropriação ecológica" pelo setor empresarial e suas contradições


Com os avanços da industrialização, da urbanização e com consumismo cada vez mais exagerado, os problemas ambientais começaram a se agravar e isso tudo acabou gerando, mais fortemente na década de 50, uma grande pressão da sociedade preocupada com a preservação do meio ambiente e com a qualidade de vida dos povos. É a partir daí que surge aquilo que Fátima Portilho* chamou de "ambientalização da sociedade".

Essa dinâmica de ''ambientalização da sociedade'', após pressões sociais, acabou se tornando um assunto de grande interesse das empresas, pois com isso elas deixariam de lado aquele esteriótipo de vilã que destrói a natureza e passariam a adotar a imagem de "amiga do verde". Mas será que essa imagem de organização sustentável e ambientalmente preocupada é verdadeira. Ou não passa de fachada? É a partir desse questionamento que Fátima Portilho propõe ao campo da sociologia e da administração estudos que se referem à  "apropriação ecológica", que é quando o setor empresarial se apropria de todo ideário ecológico, se colocando como o único segmento da sociedade capaz de promover o desenvolvimento sustentável e a preservação ambiental.

Com isso, as empresas passam a apostar na junção da gestão ambiental com as questões gerenciais e econômicas. A principio, é uma atitude louvável, mas ainda há contradição e "malícia empresarial" pro trás de todo esse investimento sustentável a favor do consumo verde. Afinal, porque o setor empresarial concentra quase todas as suas preocupações ambientais na escassez de recursos naturais e não nas espécies selvagens ameaçadas de extinção no planeta? A resposta é simples e pode ser baseada em argumentos levantados pelo geógrafo inglês David Harvey** em seu livro "O Enigma do Capital" quando ele diz que a escassez dos recursos naturais é justamente um dos obstáculos ao acumulo de capital. Em resumo, os empresários e acionistas estão mais preocupados com a futura falta de matéria-prima que seria transformada em produto e posteriormente em lucro do que com a natureza propriamente dita. Esse discurso verde, acaba, por fim tendo uma conotação econômica e não ambiental, e já era de se esperar esse tipo de comportamento do mercado, não? O lucro é "tudo".

* FÁTIMA PORTILHO:  Doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP (2003), com  Doutorado Sandwich na Oxford University (2002), foi sócio-fundadora  da "Associação Nacional de Estudos do Consumo" e escreveu o livro "Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania" (Cortez, 2010 - 2a Edição).

** DAVID HARVEY:É um escritor e professor de Antropologia e Geografia na City University of New York (CUNY) nascido na cidade de Gillingham, Inglaterra. Autor do livro "O Enigma do Capital e as crises do capitalismo"  

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